Porque pensava ser ela sentada em frente ao espelho? Não....não
reconhecia-a naquela pele, naqueles olhos opacos, cansados...Não! Decididamente
não olhava para si. Aquela parada em frente ao espelho era uma mulher triste,
trazia nos olhos uma profunda melancolia
que doía olhá-la. Quem era aquela figura tão triste à sua frente?Forçava um
sorriso, mas seu sorriso era carregado
de uma alegria disfarçada...Não fitava-a nos olhos...desviava-os...Que figura
soturna e melancólica apresentava-se diante de si.
Não, não era ela. Era qualquer
outra pessoa..., talvez uma mãe que perdera o amor de seus filhos, uma esposa
traída, uma mulher com seus desejos insatisfeitos...Não sabia...
Olhou-a com mais cuidado...até
lembrava-lhe um pouquinho sim...será? Olhou com mais atenção...Viu a expressão
no rosto daquela mulher quando sua filha foi-se embora e nunca mais voltou.Foi
viver sua vida longe...muito longe. Sim reconhecia, também havia sentido algo
assim...ainda sentia, doía lembrar...sim, tinham alguma coisa em comum.
Observou os olhos baixos e as mãos
impacientes sobre o colo, percebeu uma lágrima que rolava até a
boca...sim, também já tinha se visto
naquela situação quando achara uma mancha de batom na camisa do marido...havia
engolido a lágrima que caíra e esfregou com tanta força a camisa que chegou a brotar
uma gota de sangue da mão direita. É, talvez identificasse aquela lágrima
naquela mulher à sua frente.
Por um instante seus olhos se
encontraram e ela pode perceber uma insatisfação...desejos não satisfeitos...
Ajeitou o cabelo, alisou a saia,
puxou o decote deixando mostrar um pouco do colo ainda atraente.
Olhou atentamente para aquela
mulher a sua frente e começou a perceber um pouco de beleza nela. Não era de
todo feia. Ainda havia um certo frescor de uma juventude roubada pela vida
mesquinha que levava...Sim, observou atentamente, levantou a mão e tocou-lhe o
rosto. A pele era macia. Os lábios curvaram-se em um breve sorriso. Ficou
bonita assim, com um sorriso no rosto. Desfez o coque e então, caiu-lhe por
sobre os ombros os cabelos sedosos, escondidos por anos naquele horrível
coque...
Então chegou mais perto e olhou
mais profundamente nos olhos daquela mulher, sim...era um lampejo de desejo que
correu no olhar rápido lançado sobre ela...Aquela mulher demostrou vontades...Estava
viva, e já não mais parecia-lhe tão melancólica. Observou melhor e achou-a atraente.
Pegou um batom na gaveta e ofereceu à ela...Sim...estava ficando bonita,
encantadora.
Suspirou, levantou-se e olhou
novamente para aquela mulher que também a observava. Balançou a cabeça...Como
queria parecer-se com ela.
Sobressaltou-se...Estava na hora
do almoço e ainda não tinha nem começado a fazê-lo. Rapidamente prendeu seus
cabelos no horroroso coque, ajeitou o decote, limpou a boca e foi-se, deixando ali aquela mulher encantadora que
acabou de desvendar-se a sua frente.
Não olhou para trás...não tinha
tempo...precisava fazer o almoço. Foi-se...
Zana Ol