segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Lembranças...

    
        Respirou fundo, deu mais dois passos e sentou-se, como já fazia há algum tempo. Sentou na mesma cadeira que tão bem acomodava seu corpo cansado. Pegou o livro que repousava mansamente na cadeira ao lado, cadeira que permanecera ali, mesmo depois de tudo. Servia-lhe para pousar o livro e rastrear suas lembranças.
     Olhou ao seu redor, sentiu um conforto imenso, pois tudo lhe era extremamente familiar: os lírios plantados na floreira ao lado da porta, as roseiras... Ah as roseiras, que perfume exalava nesta época. Um cheiro que toca a alma e nos permite viajar no tempo. Havia também à sua frente a enorme mangueira, que plantaram a quatro mãos. Ela fora generosa e o presenteava com sobra e lembranças...
     Então se permitiu fechar os olhos, sentiu a brisa morna tocando seu rosto e trazendo junto as lembranças. Não era difícil lembrar-se, pois os acontecimentos  sempre foram  infinitamente atemporais. Lembrou-se da música, das estrelas e da figura que tanto rodeava sua mente.Era bom lembrar.    Então se viu, naquele imenso salão. Pessoas rindo, conversando, barulho de copos, risos... era tudo tão presente... A viu ali, no seu vestido rosa esvoaçante, cabelos soltos e negros como a noite tocando-lhe a cintura, pele  clara e olhos amendoados, sorrindo. Ela tinha estrelas nos olhos e um jeito doce de sorrir, mas foi quando sua mão tocou-lhe pedindo licença para sentar-se ao seu lado que ele percebera que aquela mão o acompanharia por toda sua vida. E assim foi. Jamais esquecera seu sorriso, jamais esquecera seu toque, jamais esquecera seus lábios tocando os seus, jamais esquecera quando juntos sentavam na mesma varanda e fechavam os olhos sentindo a brisa acariciar-lhes os rostos e ouvia a voz suave dizendo-lhe ao ouvido: -    Um dia voaremos juntos, seguiremos o vento e nossas mãos entrelaçadas entrelaçarão nossas almas e então seremos um só, corpo e alma!
      Era bom ouvi-la, era bom tê-la, era bom sentir seu toque...
      Não, não estava triste, como muitos imaginavam quando o viam sentado na varanda ao lado da cadeira vazia e segurando aquele velho livro já amarelado pelo tempo e gasto pelas inúmeras releituras que fazia diariamente. Ele sorvia cada palavra que ela escrevera em forma de versos, pois sabia que era o mais precioso que poderia ter dela agora e sempre.
      Não, não estava triste, sabia que em todos os entardecerem que ainda estavam por vir ela estaria ali, nos lírios, nas roseiras, na árvore, na brisa que insistia em beijar-lhe a face e tocar-lhe a alma.
      Não havia tristeza, apenas a certeza que logo voariam juntos seguindo o vento, seguindo a vontade, seguindo o destino...

Zana Ol

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sonho perdido

Perdeu-se o brilho
Tristeza cinza
Como cinza ficou a vida
Desesperança...

Página  rasgada abruptamente
História interrompida
Vazio
Silêncio

O brilho se foi
Deixou a certeza
De uma verdade cruel
À qual só se enxerga
Com a coragem de querer vê-la

Sonho desfeito
Busca perdida
Fim
Decepção...

Passa o tempo,
Se junta os pedaços
E segue-se o rumo


Ensaia-se novos passos
Segue o tempo
Segue a Vida...

 Zana Ol

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Iguais


  
Marchamos assim,
A passos lentos,
Cabeças ao vento,
A contento.

Marchamos assim,
Rumo ao  fim,
Seguindo a estrada,
Esbarrando na Vida.

Caminhamos assim,
Com pés pesados
E pensamentos obscuros.

Caminhamos
Ilusoriamente
Rumo à felicidade

Marchamos assim,
Com o coração apertado,
Mas o sorriso no rosto
Ilusão de que assim
A felicidade nos agracie
Com seu afago mágico.

Então erramos o caminho,
Despencamos em abismos pessoais
Afundamos na lama insólita
das mentes doentias

Mas continuar é preciso,
Necessário,
Urgente.

Então seguimos,
Marchando,
Atrás da multidão
E esta, já tão cansada desta marcha
Mas é preciso ir...

Caminhamos,
Talvez, logo ali,
Surja uma esquina
Que nos faça
Querer desviar
Deste espírito de manada
Que nos massifica,
Consome-nos,
E nos torna tão
Infinitamente iguais.

Zana Ol

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Desejo...


   Que a vontade latente em teu ser
Seja prato principal de todos os dias.

Que as perguntas silenciadas
Sejam as respostas do amanhã

Que a minha vontade encontre a tua
 E juntas possam
Gozar a liberdade
Reconhecer a  verdade
E assim entender esse sentimento
Inquietante em meu peito.

Que o medo de hoje
Se dissipe
No Sol do amanhecer
E que a tua face
Não encontre sombras
Onde possam passear medos infundados.

Que a brandura da carícia essencial
Toque teu ser
E te faça
Cúmplice
Na busca incessante
Das nossas almas

Que a tristeza da lágrima caída
Seja o alimento da esperança à florescer

Que cada palavra dita pela tua boca
Seja bálsamo para meus ouvidos.

Que as tuas verdades
Não se oponham ao medo
Das incertezas.

Que teu sorriso
Seja sempre um afago na minha alma
E que mesmo diante da infelicidade
Sejas capaz
De desviares e
De encontrares logo ali
Um motivo para ser feliz.

Que a vida nos presenteie com céus de outono e
Flores de primaveras.

Que nada permita que eu esqueça teu rosto,
Nem mesmo o tempo,
A angústia da despedida e
O medo da tua ausência.

Que enfim
Eu pouse  minha mão na tua
E juntos possamos
Ir além
Muito além do que pensávamos e
Muito mais do que sonhamos.
Então sim,
Saberás que o Amor que habita em ti 
Viverá para sempre  em mim.

Zana Ol





segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um novo caminho





Não falo mais de amores
Paixões
Humanidade.

Não falo mais de crises
E mistérios pessoais

Meu cansaço tornou-se
Um fardo
Incontestavelmente
Intolerável

Não quero mais
O braço pesado
Da consciência
Da razão
Da nitidez necessária

Quero inventar
O que ainda é preciso
Na imaginação provável
Do impossível.

Quero o desejo arqueando
Minha alma
Impulsionando a vida
Tornando-a
Vivível.

Quero a loucura insana
Na incerteza absoluta
Da voz permitida
No silêncio das palavras

Quero a vida,
Esta vida
Que se torna
Essencialmente visível
À minha alma
E me mostra
Um novo passo,
Um novo jeito,
Um novo caminho...

Zana Ol





sábado, 8 de outubro de 2011

Querer...



         
           Como borboletas brilhantes pousadas no nariz
Como se nuvens coloridas dançassem ao seu redor,
Como se a chuva prateasse seu cabelo
Como se as estrelas piscassem coloridas no seu céu
 
Assim 
Como se a vida  desse
Exatamente o que deveria  dar
Alegria, beleza e paz
 
Assim
Como o sonho desenhado a quatro mãos
 Como a poesia escrita  em uma madrugada de primavera
Como o gosto da pessoa amada
 
A vida dá
O que se precisa
Mas o coração pede mais
 
Mais borboletas brilhantes,
Mais nuvens coloridas,
Mais poesia,
Mais amor.
 
Como se o coração pedisse
Sempre mais
Inquieto
Quer o impossível,
 
Quer ir mais fundo
Do que talvez seja possível...
Conhecer o desconhecido
Entre céus individuais.
 
Como desejo infundado,
Gozo guardado,
Parede vazia...
 
Assim ele pede
O grito,
A vida ,
O amor.
 
Zana Ol