quarta-feira, 5 de junho de 2019

Abismo




Ela sentou-se a beira do penhasco. Lá embaixo havia simplesmente um abismo, o nada. Olhou, tentava enxergar alguma coisa, mas a névoa do vácuo e dos seus pensamentos não lhe mostravam nada.
Pensou na sua vida. Quanto tempo vivera em um engano. Quanto tempo passara imaginando fazer-se parte de alguma coisa. Seu mundo não pertencia a ninguém. Ninguém pertencia ao seu mundo. Olhou suas mãos crispadas na beirada, balançou os pés...Seus pés que lhe levaram tão longe, hoje estavam  ali, no nada.
Tudo era tão simples. De repente invadiu- lhe um sentimento de  plenitude. Ali e agora não precisava de nada. Bastava-se.
Sempre quis fazer parte do mundo comum, mas não era uma mulher comum. Era  mulher de um outro mundo. Tinha em si um coração selvagem, alguns chamavam de loucura....
Aquele mundo que passava diante de seus olhos, aquele mundo de todos os dias, de vidas corridas, de amores líquidos, de hipocrisias veladas....Não , não pertencia aquilo.
Loucura era o que muitos diziam serem os seus desejos. Ela apenas queria que seu mundo de dentro viesse habitar aqui fora. Sentia-se só, mas estranhamente em paz.
Não precisava ver através da névoa, por onde balançavam seus pés e seus pensamentos dançantes.  Sabia o que existia lá. Existia o que seu coração inquieto, louco, selvagem queria...Existia o que seu sorriso de menina sempre desejou.
Então por um instante vislumbrou tantas coisas bonitas. Seu coração encheu-se de uma imensa alegria e acreditou que agora sim seus pés trilhariam o mundo que sempre quis.
Sim, agora tinha certeza.
     Zana Ol