sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Estranha felicidade




      Sorriu largamente. Olhou ao seu redor e soltou um gemido de satisfação. Escancarou seu sorriso franco, faltavam-lhe alguns dentes, mas pouco isto importava-lhe, adorava sorrir. O que lhe faltava não fazia  a mínima diferença, o que realmente importava era sua  vontade de viver! – Na verdade nem ela sabia de onde vinha esta estranha sensação de plenitude que todos os dias pela manhã lhe saudava... Era estranho, mas era muito boa esta sensação(parecia ter borboletas passeando pelo céu da boca)!
      Certo dia sentou-se ao seu lado um lindo jovem (Viera de onde? Nunca soube). Ficou sentado durante um longo tempo, sem dizer uma única palavra... Não precisava. Suas presenças falavam por si. A beleza e juventude dele encantaram-lhe a alma. Então ele levantou-se, colheu uma flor que nascera no meio da calçada, e estendeu-lhe, tocando-lhe a mão. Por um momento ficou ali fitando aqueles olhos doces e brilhantes. Tinham  brilho de estrelas, os seus olhos. Enxergou-se  neles . Fitavam-na  tão francamente. Emudeceu. As palavras não se encaixavam naquele instante...O silêncio era encantador. Então por alguns momentos identificaram-se em   almas. O belo rapaz virou-se, sorriu-lhe e foi se afastando com passos que mais pareciam uma dança. Ela ficou a contemplar a bela imagem. Dobrou a esquina. Sumiu do seu olhar. Sacudiu a cabeça, colocou a flor no cabelo, ajeitou o vestido e seguiu o seu caminho.
      Não era fácil deixar as coisas belas irem embora assim, mas não havia como prender o momento. Era assim. A vida era assim.
      Baixou a cabeça e olhou para seus sapatos já gastos de tanto andar. Não havia reparado o quanto já tinha andado. Pelos  seus sapatos...já deveria ter percorrido muitos corações, muitos olhares e muitas histórias. Não contava o tempo, tampouco a distância. Simplesmente andava. Às vezes anjos faziam-lhe companhia e então carregava o mundo dentro de si, talvez por isso o seu peito enchia-se de uma alegria infinita. Alguns chamavam de felicidade. Ela apenas chamava de vida.
Zana Ol 

Poema Soturno



Acendeu-me assim
uma fagulha infinita
rompendo o obscuro pensar

Gargalhou-se de mim
a inquieta maldade
querendo ficar

Blasfemou o verbo
fazendo-me andar

Rimas vãs
prescindíveis  palavras

Acuada luz
querendo acender
a chama que se apaga
neste eterno morrer

Riu-se  a tristeza
da faúlha insistente
que socorre a vida
que vive  dentro da gente

Zana Ol