domingo, 4 de setembro de 2011

Fim da jornada


    
      Naquela noite acordou-se sobressaltada. Algo ha via acontecido. Não conseguia lembrar, mas sabia que uma mudança muito profunda havia acontecido. Olhou para os lados e só viu escuridão. Ainda era noite, mas seu coração estava aos pulos. Sentou-se na cama acendeu a luz, pegou papel  e caneta e começou a escrever. Era  preciso. Palavras ficariam registradas e talvez explicassem melhor que ditas em sua voz suave e calma, embora quisesse gritar, sua voz sempre teve um tom amistoso, calmo e cordial. Talvez escrevendo  suas palavras transmitissem  o tom que sua garganta não conseguia produzir. Precisava declarar o que realmente sentia diante de todos os acontecimentos anteriores aquela noite. Ajeitou o travesseiro, arrumou o lençol e por um breve instante olhou para a folha branca em seu colo, ali registraria o que sempre quis que todos soubessem, agora estava decidido. Escreveria. Com todas as palavras necessárias para ser entendida. Não queria que fosse subentendida. Queria o entendimento total. Assim evitaria mágoas, rancores e dúvidas.   Queria descansar, mas antes precisava escrever. Escrever sempre fora sua maior paixão. Escrevera sobre paixão, quando ainda menina se apaixonava por tudo ao seu redor, mais tarde escreveu sobre amor, pois as paixões foram se acabado e restou-lhe este sentimento tão inexplicável, depois escrevera sobre a esperança, pois esta sempre esteve presente, mas houve um tempo em que era o único sentimento que a movia diante da vida, que se apresentava em capítulos tão distantes da sua essência. Por fim hoje escreveria sobre o fim da jornada. Acordara com esta certeza. Então sem perder tempo pôs-se a escrever.
      O Sol já clareava o dia e nem percebera. Havia escrito durante horas. Não relera uma só palavra. Não era preciso. Sabia que havia colocado todas as palavras nos lugares certos. Onde deveriam  estar. Olhou pela janela e viu o céu azul e nuvens brancas. Aquilo já não causava mais encantamento. Era apenas  espaço e  luz e uma explicação infindável de como se projetava o azul.  Engraçado que quando há explicações para as coisas elas vão perdendo a sua magia. Mas ainda achava bonito o azul. Sempre gostou desta cor.           Olhou ao seu redor. Tudo como sempre. Tudo no seu lugar. Tudo tão organizado. Mas sabia que depois de hoje aquele quarto se modificaria.  Não seria mais o mesmo. Levantou-se ,olhou-se no espelho e viu-se bela. Seus olhos apesar das rugas  estavam  brilhantes. Talvez aquele brilho fosse  a paixão, o amor a esperança e a aceitação da sua finitude. Todos esses sentimentos juntos lhe devolveram o brilho. Pois sim, era este brilho que queria que permanecesse em seus olhos e em sua vida. Então sem hesitação, estendeu o lençol branco sobre a cama e  colocou as folhas dobradas, sim dobradas, pois as palavras deveriam ser guardadas para que alguém as achasse e as lessem cuidadosamente. Sabia que muitos não compreenderiam, mas as almas próximas a sua com certeza entenderiam. Colocou o chinelo, ajeitou o cabelo e abriu a porta. O corredor estava vazio, então avançou, mais uma porta para abrir e então estava em liberdade.
      Havia uma estrada infinita, mas que estava disposta a percorrer até o seu final, pois sabia que assim como ela, a estrada também acabaria...

Zana Ol

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