Naquele
dia correu porta a fora. Tinha escutado a música. Tinha certeza. Ela vinha de
algum lugar, lá fora.
Sentiu
a grama macia sob seus pés... Então parou. A música havia cessado. Ficou ali,
sentindo um prazer... Dançou. Seus pés nus dançavam suavemente sob a relva
úmida pelo orvalho.
Tentou
ouvir a música, mas já não a escutava. Olhou ao longe e descobriu uma árvore
que nunca tinha visto. Caminhou descansadamente, não tinha pressa (as árvores
não saem do lugar).
Conforme
se aproximava daquela árvore desconhecida, percebia que era muito grande,enorme.
Olhou suas raízes, eram grossas e profundas. Mantinham-na inabalável. Uma
fortaleza.
Seus
galhos pareciam não ter fim. Respirou fundo e sentiu um perfume suave e doce. Que
estranho nunca ter percebido aquela enorme árvore.
De
onde vinha tal perfume? Não havia flor alguma. Resolveu subir em um galho e
então descobriu a flor mais linda que poderia existir... Encontrava-se no galho
mais alto da árvore.
Era
de um colorido intenso, grande, porém delicada. Dela exalava um delicioso
perfume. Por alguns instantes ficou ali, encantada com o que via e sentia.
Subiu mais ainda... Não conseguia alcançá-la. Então se sentou em um dos galhos
e ficou a observar a encantadora flor.
Recordações
vieram em sua mente e então fechou os olhos e deixou-se ser levada pelas
lembranças. Ouviu as risadas dos seus filhos brincando junto ao banco que
ficava no jardim, enquanto regava o canteiro de margaridas. Ouviu o chinelo do
seu pai, arrastando-se pela varanda enquanto pegava o jornal. Sentiu o cheiro
do café que sua avó fazia, sempre que ia visitá-la. Ouviu o choro angustiante de
sua mãe. Sentiu a tristeza dos corações que envolviam um corpo estendido ao chão, debaixo de uma
árvore.
Lembrou-se
de tantas coisas, mas não conseguia lembrar-se do rosto do corpo ainda jovem
que se estendia sobre a grama úmida... Sentiu uma angústia enorme por não
conseguir ver o rosto... Sentiu uma dor
profunda no peito. Faltou-lhe o ar. Abruptamente suas lembranças apagaram-se e
visualizou a sua frente a flor que antes encontrava-se tão acima...era de um
brilho que ofuscava seus olhos. Sentiu-se paralisada. Olhou ao redor, a árvore
transformara-se em uma grande flor de luz. Sorriu. Nunca tinha sentido uma
sensação tão boa. Então, aos poucos, foi percebendo-se luz também. Misturou-se
com o cintilante das cores e tornou-se perfume...
A
bela flor do galho tão alto caiu sobre o corpo, que pensara estar somente em
suas lembranças.... Pousou suavemente sobre o peito inerte. Por um momento todos
ali, olharam para o céu e descobriram uma luz colorida a espalhar-se. Então
sentiu-se um perfume a tomar conta do ar. A beleza que se viu foi tão tocante
que por um momento as lágrimas cessaram e conseguiu-se ver nos olhos tristes
um lampejo de admiração e um sopro de
alegria.
Era
assim então. Seu coração transformou-se em uma flor de luz e seguiu a enfeitar
e perfumar os jardins infinitos. Foi o seu destino.
Zana Ol