terça-feira, 27 de setembro de 2016

Esperança



Queria-lhe a voz
o toque
o tempo
a paixão

Queria-lhe o lume
da estrela
do olhar
do sonho

Queria-lhe  o pensamento
sem tormento
com alento

Por ai vai
Querendo-lhe sempre mais

Por aí vai deixando-se
ali,
aqui,
lá...

Queria  mesmo
tudo...
corpo, alma, mente

A vida, ingrata
deixou-lhe de lado
abandonado
desolado...

Içam-se as velas
avança-se ao mar
das ilusões ,
das paixões
das histórias dançantes

Coração insistente,
persistente
Não desiste
Acorda a esperança que lá existe

Então  sonolenta
A esperança acena, rouba a cena
e me tira pra dançar.

Zana Ol





quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Destino

       


       Naquele dia correu porta a fora. Tinha escutado a música. Tinha certeza. Ela vinha de algum lugar, lá fora.
      Sentiu a grama macia sob seus pés... Então parou. A música havia cessado. Ficou ali, sentindo um prazer... Dançou. Seus pés nus dançavam suavemente sob a relva úmida pelo orvalho.
      Tentou ouvir a música, mas já não a escutava. Olhou ao longe e descobriu uma árvore que nunca tinha visto. Caminhou descansadamente, não tinha pressa (as árvores não saem do lugar).
      Conforme se aproximava daquela árvore desconhecida, percebia que era muito grande,enorme. Olhou suas raízes, eram grossas e profundas. Mantinham-na inabalável. Uma fortaleza.
      Seus galhos pareciam não ter fim. Respirou fundo e sentiu um perfume suave e doce. Que estranho nunca ter percebido aquela enorme árvore.
      De onde vinha tal perfume? Não havia flor alguma. Resolveu subir em um galho e então descobriu a flor mais linda que poderia existir... Encontrava-se no galho mais alto da árvore.
      Era de um colorido intenso, grande, porém delicada. Dela exalava um delicioso perfume. Por alguns instantes ficou ali, encantada com o que via e sentia. Subiu mais ainda... Não conseguia alcançá-la. Então se sentou em um dos galhos e ficou a observar a encantadora flor.
      Recordações vieram em sua mente e então fechou os olhos e deixou-se ser levada pelas lembranças. Ouviu as risadas dos seus filhos brincando junto ao banco que ficava no jardim, enquanto regava o canteiro de margaridas. Ouviu o chinelo do seu pai, arrastando-se pela varanda enquanto pegava o jornal. Sentiu o cheiro do café que sua avó fazia, sempre que ia visitá-la. Ouviu o choro angustiante de sua mãe. Sentiu a tristeza dos corações que envolviam um  corpo estendido ao chão, debaixo de uma árvore.
      Lembrou-se de tantas coisas, mas não conseguia lembrar-se do rosto do corpo ainda jovem que se estendia sobre a grama úmida... Sentiu uma angústia enorme por não conseguir ver o rosto...  Sentiu uma dor profunda no peito. Faltou-lhe o ar. Abruptamente suas lembranças apagaram-se e visualizou a sua frente a flor que antes encontrava-se tão acima...era de um brilho que ofuscava seus olhos. Sentiu-se paralisada. Olhou ao redor, a árvore transformara-se em uma grande flor de luz. Sorriu. Nunca tinha sentido uma sensação tão boa. Então, aos poucos, foi percebendo-se luz também. Misturou-se com o cintilante das cores e tornou-se perfume...
      A bela flor do galho tão alto caiu sobre o corpo, que pensara estar somente em suas lembranças.... Pousou suavemente sobre o peito inerte. Por um momento todos ali, olharam para o céu e descobriram uma luz colorida a espalhar-se. Então sentiu-se um perfume a tomar conta do ar. A beleza que se viu foi tão tocante que por um momento as lágrimas cessaram e conseguiu-se ver nos olhos tristes um  lampejo de admiração e um sopro de alegria.
      Era assim então. Seu coração transformou-se em uma flor de luz e seguiu a enfeitar e perfumar os jardins infinitos. Foi o seu destino.

                                                                                                                           Zana Ol    

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Desejos




Peito arfante
mão estendida
alma aflita
desejo...

Corpo arrepiando
vento soprando
murmúrio...

Suspiros,
sussurros
boca procurando a tua
pele nua

Sonho
delírio
riso solto
satisfação

pensamento desfeito
insensatez

Olhos brilhantes
amantes
mãos entrecruzadas
unidas solenemente
olhos a espera
cegos as luzes

mergulhados em si
não há tempo,
não há hora
segue o destino

Dores agudas
suspiros vermelhos
imagens no espelho
segue a vida
abre-se a porta
partida...

Zana Ol