quinta-feira, 23 de junho de 2011

Máscaras


      Encolheu-se na poltrona, abraçou os joelhos e pensou que dali não sairia até que aquela dor lancinante  passasse. Olhou ao seu redor e só o que viu foram sombras. Tudo acabara e por mais que tentasse entender a dor não lhe permitia. Tentou trancar o soluço, mas foi em vão, então se permitiu chorar tudo que antes havia guardado.  
      Não sabe por quanto tempo ficou ali, mas as lágrimas haviam secado e agora já não conseguia sentir mais nada. Assim como as lágrimas secaram em seu rosto, assim também se sentia por dentro. Sentia-se seca.
      Mais uma vez olhou ao seu redor e percebeu que já era muito tarde. Tarde demais. Por um breve momento revivera tudo que ainda guardava na memória. Levantou-se. Passo a  passo cruzou o caminho que a separava da porta ainda entreaberta, então percebeu o que realmente acontecera. Nada permitiria que voltasse atrás.
      Mais uma vez olhou ao seu redor e agora o que via eram  máscaras coloridas a sorrir-lhe, então uma a uma  foi pegando e colocando em seu frágil rosto ainda marcado pelas lágrimas que teimaram em secar e ali deixaram suas marcas.  
      Abriu a porta e com passos  seguros atravessou-a . Pisou firme no mundo lá fora. Jamais deveria tê-las tirado. Jamais deveria ter se mostrado sem elas. O mundo não está preparado para aceitar as pessoas assim, livre de máscaras. Infelizmente ainda teria que usá-las, mesmo que isso a impedisse de sentir o vento da verdade a afagar-lhe o  rosto. Teria que ser assim. Só assim sobreviveria. Talvez um dia consiga tirá-las e suportar  as conseqüências, mas agora ainda não. Ainda não era a hora. Era assim que o mundo a aceitava, então assim seria...

Zana Ol

2 comentários:

  1. Prezada Rosana,

    como sempre, um lindo texto. Em cada um deles encontro trechos que me falam mais profundamente como esse: "Por um breve momento revivera tudo que ainda guardava na memória. Levantou-se. Passo a passo cruzou o caminho que a separava da porta ainda entreaberta, então percebeu o que realmente acontecera. Nada permitiria que voltasse atrás." É verdade, nunca é possível voltar atrás. Nosso existir é um constante ir e, nessa impositiva caminhada as memórias são o alimento de cada novo passo.

    Um forte abraço,

    Garin

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  2. Professor Garin,

    como é bom ler seus comentários, pois são baseados na reflexão sobre as postagens.E toda vez que leio os trechos que salientas, reflito novamente.Só posso agradecer. Muito obrigada!

    Um abraço,
    Rosana

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