quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Caminhos




 Sigo
Com a certeza que é preciso ir
Vou,
Abrindo caminhos
Buscando a vida,
O momento.

Viro a esquina dos sentimentos,
Atalho,
Já não há necessidade
De tantos detalhes,
Tantas pedras.

Vou por entre flores,
Por entre pássaros,
Por entre amores.

Desvio dos rumores,
Das pedras soltas,
Sigo
No silêncio,
Na mansidão,
Na solidão.

O caminho tornou-se meu e
Eu, o meu caminho.
Nele habitam minhas vontades,
Meus sonhos,
Minhas verdades.

Já não há o passo incerto,
Há o desejo de ir
Então sigo,
Vou
Contando o tempo,
Cantando sentimentos,
Querendo o momento.

Caminho...
É tão  longa a estrada,
Sinuosa,
Ora me lança em uma curva
Em outra me acolhe
Oferecendo-me o horizonte.
Então sigo
Meu caminho,
Minha vida,
Meu destino.

Zana Ol


Ilusão


    
    Foi assim. Numa noite escura e fria. O tempo passara muito rápido e já não havia tempo para voltar atrás e tentar desfazer o que havia se consumado. Ela partira. Não reconhecia mais aquela figura que ali permanecia em pé a sua frente. Era apenas uma imagem, um corpo. Quantas vezes seu ombro amigo fora consolo para suas experiências amargas e tristes? Já nem lembrava quantas vezes suas palavras lhe deram conforto. Agora lhe restava a amarga lembrança de tudo o que ela fora em sua vida. O que restou foi apenas um corpo. Não reconhecia mais aquela que ali estava. Quanto tempo havia se permitido iludir? Nunca percebera, porque queria que ela lhe parecesse o que sempre fora, ou o que pensava ser: sua amiga. Mas as verdades lhe mostravam o que tanto queria não ver. Agora não mais poderia negar. Acabou. Restava-lhe a amarga lembrança de que nunca fora o que realmente pensava ser. Tudo simplesmente não passou de uma pura ilusão que lhe permitira viver uma história que não era real.
      Ela permanecia ali, com o mesmo sorriso, que por muitas vezes lhe pareceu franco e verdadeiro, talvez ainda fosse, porém não era para ela que seu sorriso se dirigia, era para si própria. Suas vontades eram para si. Nunca fizera parte verdadeiramente do seu mundo.
      Foi assim que aos poucos aquela imagem foi-se apagando. Já passara muito tempo. Ela partira.A imagem que tanto encanto lhe trouxe já não existia. Então a vida se tornou um pouco mais fria. Um pouco mais cinza. Um pouco mais sem ilusão.
      Quem permanecia ali a sua frente era alguém que não conhecia, e o mais triste, não tinha a menor vontade de conhecer. Tudo parecia tão distante e tão óbvio.
      Nada mudaria os fatos. Agora lhe restava a certeza que o caminho trilhado fora o mesmo, mas a consciência, esta ,havia trilhado caminhos muito diferentes. Esta foi a constatação.
      É, não havia mais tempo...Não valeria a pena reconstruir nada, mesmo porque a base também havia se consumido na insensatez  dos acontecimentos.
      Frio, silêncio , vazio e a certeza que não há a possibilidade de enganar e enganar-se o tempo inteiro, porque o tempo é infinito e a verdade ronda as almas daqueles que se permitiram ter consciência de percebê-la.

Zana Ol

domingo, 11 de setembro de 2011

Tempo





E o tempo...
Escapou-me
Por entre os dedos,
Por entre os sonhos,
Pela minha vida.

Foi-se sem que eu percebesse
Foi-se sem se tornar finito
Foi-se

Levou com ele
Meus anseios
Meus desejos
Minhas vontades

Deixou-me a certeza
De que não voltará
Deixou  apenas
Uma leve brisa
A recordar-me
Das fortes tempestades,
Apenas as lembranças.

Mas o tempo
encantado
Que se esconde
No cerne da minha alma
No íntimo canto da minha vida
Ah, este, ninguém rouba de mim.

Zana Ol


domingo, 4 de setembro de 2011

Fim da jornada


    
      Naquela noite acordou-se sobressaltada. Algo ha via acontecido. Não conseguia lembrar, mas sabia que uma mudança muito profunda havia acontecido. Olhou para os lados e só viu escuridão. Ainda era noite, mas seu coração estava aos pulos. Sentou-se na cama acendeu a luz, pegou papel  e caneta e começou a escrever. Era  preciso. Palavras ficariam registradas e talvez explicassem melhor que ditas em sua voz suave e calma, embora quisesse gritar, sua voz sempre teve um tom amistoso, calmo e cordial. Talvez escrevendo  suas palavras transmitissem  o tom que sua garganta não conseguia produzir. Precisava declarar o que realmente sentia diante de todos os acontecimentos anteriores aquela noite. Ajeitou o travesseiro, arrumou o lençol e por um breve instante olhou para a folha branca em seu colo, ali registraria o que sempre quis que todos soubessem, agora estava decidido. Escreveria. Com todas as palavras necessárias para ser entendida. Não queria que fosse subentendida. Queria o entendimento total. Assim evitaria mágoas, rancores e dúvidas.   Queria descansar, mas antes precisava escrever. Escrever sempre fora sua maior paixão. Escrevera sobre paixão, quando ainda menina se apaixonava por tudo ao seu redor, mais tarde escreveu sobre amor, pois as paixões foram se acabado e restou-lhe este sentimento tão inexplicável, depois escrevera sobre a esperança, pois esta sempre esteve presente, mas houve um tempo em que era o único sentimento que a movia diante da vida, que se apresentava em capítulos tão distantes da sua essência. Por fim hoje escreveria sobre o fim da jornada. Acordara com esta certeza. Então sem perder tempo pôs-se a escrever.
      O Sol já clareava o dia e nem percebera. Havia escrito durante horas. Não relera uma só palavra. Não era preciso. Sabia que havia colocado todas as palavras nos lugares certos. Onde deveriam  estar. Olhou pela janela e viu o céu azul e nuvens brancas. Aquilo já não causava mais encantamento. Era apenas  espaço e  luz e uma explicação infindável de como se projetava o azul.  Engraçado que quando há explicações para as coisas elas vão perdendo a sua magia. Mas ainda achava bonito o azul. Sempre gostou desta cor.           Olhou ao seu redor. Tudo como sempre. Tudo no seu lugar. Tudo tão organizado. Mas sabia que depois de hoje aquele quarto se modificaria.  Não seria mais o mesmo. Levantou-se ,olhou-se no espelho e viu-se bela. Seus olhos apesar das rugas  estavam  brilhantes. Talvez aquele brilho fosse  a paixão, o amor a esperança e a aceitação da sua finitude. Todos esses sentimentos juntos lhe devolveram o brilho. Pois sim, era este brilho que queria que permanecesse em seus olhos e em sua vida. Então sem hesitação, estendeu o lençol branco sobre a cama e  colocou as folhas dobradas, sim dobradas, pois as palavras deveriam ser guardadas para que alguém as achasse e as lessem cuidadosamente. Sabia que muitos não compreenderiam, mas as almas próximas a sua com certeza entenderiam. Colocou o chinelo, ajeitou o cabelo e abriu a porta. O corredor estava vazio, então avançou, mais uma porta para abrir e então estava em liberdade.
      Havia uma estrada infinita, mas que estava disposta a percorrer até o seu final, pois sabia que assim como ela, a estrada também acabaria...

Zana Ol